por Guto Maia Todo dia, bem cedo, pego minha carroça, ponho em cima os badulaques, bagulhos e cobertores onde dormi, e saio pelas ruas do bairro em busca de tudo que possa ser reciclado. Cato um resto de palavras aqui, algumas rimas de versos de pés quebrados ali, alguns fragmentos de linhas mal traçadas descartadas acolá. Sobras de conversas, sorrisos amarelos, sentimentos embolorados, projetos esfacelados, esperanças perdidas, juras de amor desfeitas, frases mal ditas, tudo serve, culpas acumuladas...Tudo que possa ser restaurado. Tudo que eu conseguir juntar, alguém quererá um dia. Vivo das sobras e restos de sentimentos, lágrimas embotadas, corações partidos... Um catador de sonhos recicláveis. Minha contribuição para o mundo é essa. Ajudar na purificação, purgação, penitência, expiação... Sei que é pouco, mas só posso dar o que sei.